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terça-feira, 14 de abril de 2009

Comunicação, Música, Desenvolvimento Local e Algumas Cabeças Pensantes

Mesa de palestras e debate na UFRJ discute virtudes, promessas e problemas do novo mercado de música no Brasil e na Europa

por Leonardo De Marchi


Neste último dia 03 de Abril, deu-se início, em grande estilo, aos eventos da Rede Rio Música em 2009. Em parceria com o Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Eco-Pós), o Instituto Overmundo e o Sebrae-RJ, e organizado pelo Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação (NEPCOM), coordenado pelo professor da Escola de Comunicação Micael Herschmann (Eco-UFRJ), contando com o apoio do doutorando Leonardo De Marchi (Eco-Pós UFRJ), realizou-se a mesa de palestras e debate Comunicação, Música e Desenvolvimento Local: Balanço da Reestruturação da Indústria da Música, parte do Ciclo de Palestras da RRM. Este evento foi patrocinado pela FAPERJ, Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), do Ministério de Relações Exteriores e Cooperação da Espanha.

O objetivo do encontro foi reunir, pela primeira vez, estudiosos das recentes
transformações da indústria da música no Brasil e na Europa para discutir aspectos como viabilidade, vantagens, desvantagens, potencialidades, além de problemas presentes e futuros de novos negócios de música.

Começando às dez horas – claro,
contando com o tradicional atraso carioca de trinta minutos – a primeira palestra foi proferida pelo professor Luis Alfonso Albornoz , da Faculdade de Humanidades, Comunicação e Documentação da Universidade Carlos III de Madri. Em sua exposição acerca dos desafios e perspectivas para a música digital, o professor argentino enfatizou alguns dos desafios mais sensíveis aos novos modelos de produção, circulação e consumo de música por redes de computadores. Sua preocupação não se fixou apenas na viabilidade dos chamados “novos modelos” de negócios; também esteve voltada para o fomento de políticas públicas que possibilitem e garantam uma produção, distribuição e acesso amplo aos produtos culturais.

É neste sentido, sublinhou, que o debate sobre o que é “pirataria” (venda de produtos falsificados) ou direito ao acesso a bens simbólicos (descarregar um disco pela rede Internet), por exemplo, assume dramaticidade crítica no debate cultural contemporâneo.

Em seguida, Oona Castro, diretora executiva do Instituto Overmundo, apresentou um interessante painel sobre o Tecnobrega de Belém do Pará. Sua exposição deixou clara a viabilidade econômica e relevância cultural do Tecnobrega para a cidade de Belém. Baseando-se nas impressi
onantes informações publicadas em seu recente livro, (escrito com Ronaldo Lemos, "Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música" - editora Aeroplano, 2008"), a pesquisadora ressaltou o que existe de mais inovador neste novo modelo de negócio com música, isto é, ao contrário da tradicional prática da indústria de música, especialmente a gravada, há um uso heterodoxo dos direitos autorais para a produção, circulação e consumo de música. Em poucos termos, pode-se dizer que a lógica aqui é distribuir o produto seja como for: quanto mais uma gravação for espalhada por redes de produtores e consumidores, maiores os lucros para todos os agentes envolvidos. Isto requer, portanto, que o zelo pela proteção dos direitos autorais caia para planos inferiores na dinâmica deste mercado. E, por isto, o enorme êxito comercial deste tipo de “negócio aberto” (open business), que anima não só o Tecnobrega do Pará como também o Kuduro da África lusitana ou a Cumbia Villera argentina, parece estar promissoramente apontando para uma nova forma de fazer e consumir a música de forma sustentável.

Os argumentos de Luis e Oona ganharam ainda mais eco quando, na sequência, o professor da Escola de Comunicação da UFRJ, Micael Herschmann, abordou a crise da indústria fonográfica e uma de suas soluções: a ênfase nos espetáculos ao vivo através do exemplo do Circuito do Samba e C
horo na Lapa, tradicional bairro boêmio do Rio de Janeiro. Igualmente se valendo das informações reunidas durante sua pesquisa e publicadas em seu livro "Lapa: cidade da música" (Mauad X, 2007), Herschmann destacou a importância do espetáculo musical como uma via para o desenvolvimento econômico local. O elogio do professor ao caso da Lapa não reside apenas em seu êxito financeiro – afinal, hoje, o bairro voltou a ser um centro econômico significativo para a economia da cidade –; está especialmente em ser singular exemplo de desenvolvimento econômico e cultural capitaneado pela associação de empresários, músicos e moradores da região em parceria com o poder público. Ainda que agora tenha se tornado um desafio manter o caráter democrático do local, observou o palestrante, devido a seu próprio sucesso, continua a impressionar e a inspirar novas experiências o modo pelo qual empresários e músicos daquela região capitalizaram a tradicional associação dos gêneros Samba e Choro com o bairro – daí o pesquisador classificar a Lapa como certo tipo de “parque temático”.

As convergências entre as falas dos pa
lestrantes impressionaram. Pode-se mesmo afirmar que desenvolvimento local, governança e acesso democrático aos bens simbólicos foram palavras-chave no evento. Se, por um lado, todos enalteceram a relevância desses novos negócios da música, por outro, deixaram evidentes os graves desafios de longo prazo para essas novas formas de produzir, distribuir e consumir música. Concorda-se que é preciso, para evitar situações oligopólicas, reunir iniciativa privada e poder público para garantir um acesso pleno a tais bens simbólicos.

Em seguida, deu-se início ao debate. As provocações de H
elena Aragão, também do Instituto Overmundo, e Arthur Coelho Bezerra, membro da Área de Economia Criativa do Sebrae-RJ e da Rede Rio Música, buscaram ressaltar alguns dos aspectos mais chamativos das apresentações anteriores, como os debates sobre “pirataria” na Espanha ou a longevidade de fenômenos como o Tecnobrega e a Lapa, no Brasil. As tréplicas reforçaram a necessidade de continuidade nas pesquisas e discussões acerca deste “novo mercado de música” que se anuncia no ocaso do modelo tradicional da indústria fonográfica.

Finalmente, as perguntas e comentários do público – que, se não chegou a lotar o Salão Dourado da UFRJ, foi sem dúvida atento e participativo – sublinha
ram o interesse pelo tema. Também estes questionamentos apontavam preocupações com os desafios e possibilidades que as novas formas de produção de música apresentam. Afinal, se há indicações de novos modelos, nada garante que continuem sendo uma referência em um futuro próximo.
A mesa foi encerrada às treze horas. Felizmente, por fim, ficou a sens
ação não apenas de dever cumprido como também de que uma importante via de diálogo entre estes investigadores foi aberta e que encontros instigantes como este se repetirão em breve.

realização:




2 comentários:

Anônimo disse...

Eu tenho um amigo que tem uam banda de funk,eles tem um som muito bom,mais o problema é que eles moram em Brasilia,mas querem muito vim para Salvador,se vocês contratarem eles,eles poderam ir para o rio.
Entrem em contato:
stephaniedourado@oi.com.br

Paty Z. disse...

Adoro musica e sou curiosa nesse assunto.Achei muito interessante o debate realizado. Maravilhosa iniciativa! Vou acompanhar.