Páginas

terça-feira, 25 de agosto de 2009

DA GARAGEM AO MAINSTREAM - REPORTAGEM SOBRE A PALESTRA DE RODRIGO LARIÚ NA FEIRA DA MÚSICA




FEIRA DA MÚSICA (24/8/2009)
Da garagem ao mainstream


RODRIGO LARIÚ, da gravadora e produtora carioca Midsummer Madness, falou a jovens artistas e produtores sobre sua experiência na projeção de artistas independentes: duas décadas de trabalho, da demo em cassete aos tempos da música para celular.

Se as tecnologias digitais facilitaram a produção musical, tornaram mais desafiadora a tarefa de se destacar em meio ao caleidoscópio de novos artistas. O tema foi abordado em uma das oficinas mais concorridas da Feira da Música, encerrada no último sábado, em Fortaleza. Com direito a dicas práticas para quem quer fazer sua banda "acontecer" O que eu espero da minha música? Para Rodrigo Lariú, produtor do selo e produtora carioca Midsummer Madness, que está completando 20 anos de atuação, essa é a pergunta fundamental a ser respondida por um músico independente.
Como os que participaram da Oficina de Assessoria em Gestão para Artistas e Grupos Musicais. "Como se comportar no mercado fonográfico - Dicas práticas de como produzir e divulgar seu trabalho" foi o mote do encontro, que com cerca de 40 participantes lotou a Sala 7 do Pavilhão de Negócios do Sebrae, na tarde de sexta-feira.
Inclusive causando ansiedade em quem, tendo "voltado da porta" no dia anterior, por não conseguir vaga para a oficina, esperava na fila receoso."No auditório imenso lá embaixo, tem mais gente na mesa de debate que na platéia, e aqui a gente não sabe se entra", queixou-se o cantor e compositor piauiense Gilvan Santos. Com muito tato, a representante da organização serenou os ânimos, acomodando todos na sala em que Lariú dividiu com artistas e produtores de diversos estados um pouco de sua experiência que já rendeu festivais como o "Algumas pessoas tentam te f..." e 25 discos, projetando bandas como Nervoso e os Calmantes, Smack e Luisa Mandou um Beijo.
Realizações que acabaram tornando o selo uma referência importante para a cena independente, desde os tempos das fitas-demo, enviadas pelos correios quando ainda nem se pensava no turbilhão de mudanças que a Internet traria à música.Partindo, pois, para as respostas possíveis à pergunta inicial, Lariú, de forma bem-humorada, faz questão de ressaltar as várias possibilidades de convivência com a música. "Sucesso é relativo. Pode ser prensar 500 cópias e vendê-las ou ser, por exemplo, a melhor banda do seu condomínio. Pode parecer pouca coisa, mas não é", divisa. "Ou pode ser se divertir tendo uma banda como hobby, sem largar o seu emprego, o que não é demérito pra ninguém. Ou pagar as contas com a música. Ou ainda ganhar uma grana, além de pagar as contas. Ou ficar rico, ser o próximo Jota Quest, tocar no Faustão", diferencia, destacando a importância de se ter essa definição básica bem maturada - compreendida e adotada por todos os integrantes de uma banda - para então se definirem as estratégias a serem utilizadas para alcançar esse objetivo - do mais modesto ao mais grandiloqüente.
Importante mesmo é colocar a mão na massa e saber da necessidade de investir recursos, tempo e dedicação para cruzar a ponte. "O que fica no imaginário das pessoas é que alguém vai começar uma banda de garagem, e vai aparecer um produtor pra descobrir o seu enorme talento. Não é assim. Ou até é, mas pra um em um milhão", deixa claro Rodrigo, ressalvando que não existe "receita" pronta para ampliar a repercussão de um trabalho musical. "Com a Midsummer Madness, eu aprendi fazendo na marra, por tentativa e erro.
Não dá pra dizer: ´Façam o que eu estou falando, que vai dar certo´. Mas dá pra dizer o que não deve ser feito de jeito nenhum".Da originalidade à transpiraçãoSob os olhares atentos de músicos como Robério Damasceno, da banda de rock cearense Dago Red, Rodrigo Lariú compartilhou algumas dicas para bandas em início de carreira - ou mesmo para veteranas que buscam ampliar sua visibilidade em uma cena cada vez mais movimentada.Sem deixar de frisar o valor da originalidade - de um som que chame atenção, uma formação inusitada ou mesmo uma imagem diferente -, o produtor destaca a importância do trabalho para que o bloco ganhe a rua.
A criação de um website próprio não é obrigatória, mas a presença em sites de comunidades como Myspace, Tramavirtual e Palcomp3, sim. A criação de um "press-release" curto e sem erros de português, a produção de fotos com um conceito amadurecido da imagem da banda e a disponibilização de faixas em "streaming" (aquelas que podem ser ouvidas online, mas não baixadas) são outras providências fundamentais. A primeira "demo" (material demonstrativo) de uma banda, seja em CD ou na Internet, deve ter poucas faixas - no máximo, cinco -, definindo-se uma delas como prioritária ("música de trabalho) e oferecendo-a também para download gratuito.O estabelecimento de uma rede de contatos - como uma lista de endereços de e-mail para receber as notícias da banda e as datas de shows -, a participação em eventos especializados (como a própria Feira da Música) e os cuidados ao nomear os arquivos MP3 são outros pontos importantes (em um mundo em que a quantidade de música online é gigantesca, baixar uma faixa de uma nova banda e tê-la em um MP3 player com o nome de ´Artista desconhecido-Faixa 1" não facilita em nada a vida do potencial ouvinte).
Também é preciso preencher a ID3 Tag, espécie de ficha com mais informações sobre a autoria e a origem de um arquivo MP3.Também vale destacar que todas essas providências devem suceder um processo bem realizado quando da própria concepção da banda. "Muitas vezes, quando uma banda tá ralando pra aparecer, surge uma oportunidade incrível, mas há diferenças entre os integrantes", alerta Lariú, que arrancou risadas ao falar sobre os cuidados que devem ser tomados desde a definição do nome da banda."É bom evitar nomes muito gerais, porque vai ser difícil encontrar a sua banda no Google, e evitar também certos clichês, como ´super´, ´stereo´, ´amp´, ´los´... Mas, de novo, não há fórmula pronta.
Tem muitas bandas boas com nomes assim", relata, lembrando grupos como Los Hermanos e Supercordas. "É preciso checar nos sites tipo Myspace se já existem bandas com o mesmo nome que você pensa em usar. O nome da banda também tem que ter a ver com o som, mas é bom evitar clichês como ´Skamundongos´ pra bandas de ska, e ´Crucifier´, ´Predator´, ´Empalator´, pra uma banda de metal".A recomendação de evitar nomes longos também rendeu boas risadas. "É difícil trabalhar com nomes como ´Móveis Coloniais de Acaju´, imagina a pessoa procurar isso no Google. Agora, eu falo isso, mas na minha gravadora tem uma banda chamada ´Uma cabeça de alho tem nove dentes, mas eu só utilizo dois pra fazer arroz´". De fato, para o sucesso, seja em que patamar for, não há somente uma receita.
DALWTON MOURA - REPÓRTER - http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=664538

Nenhum comentário: